Agendamento IVDP

Vinificação

Vinhos do Porto

A produção do vinho do Porto é um processo enológico singular, marcado por uma longa tradição, elevada exigência técnica e um profundo respeito pelas características da Região Demarcada do Douro. Ao contrário dos vinhos tranquilos, a vinificação do vinho do Porto distingue-se pela interrupção deliberada da fermentação alcoólica através da adição de aguardente vitícola previamente certificada pelo IVDP, IP.

É um processo técnico exigente, mas com base numa prática histórica que atravessa séculos. Hoje, junta-se o saber tradicional às ferramentas modernas — e tudo começa na vinha.

 

Processo de Vinificação ao longo dos tempos

A produção de vinho do Porto está profundamente ligada à história da Região Demarcada do Douro, cuja tradição remonta ao século XVII.

Durante muito tempo, o processo era empírico e feito com os meios disponíveis. Entre meados do século XVII e o século XVIII, a aguardente era adicionada no final da fermentação ou antes do transporte, o que originava vinhos alcoólicos, mas secos. Só a partir do século XIX é que a aguardentação passou a ser efetuada a meio da fermentação, preservando o açúcar natural das uvas e tornando o vinho doce — como o conhecemos hoje.

No século XX, começaram a ser introduzidas melhorias tecnológicas que permitiram maior controlo sobre o processo: equipamentos modernos, melhor higiene e fermentações mais precisas. Estes avanços trouxeram mais elegância, consistência e segurança ao produto final.

Atualmente, a vinificação do vinho do Porto continua a juntar tradição e inovação, respeitando o saber acumulado no Douro ao longo de gerações.

 

a) Vindima e transporte das Uvas

A vindima tem lugar entre os meses de agosto e outubro, variando conforme o ano agrícola e a maturação das uvas. A colheita é, regra geral, realizada manualmente, dada a orografia acidentada da região, onde é muito difícil a mecanização.

As uvas são transportadas em caixas de pequena capacidade, de modo a evitar esmagamentos indesejados e garantir a integridade dos bagos. À chegada à adega, cada carga é cuidadosamente identificada e registada, garantindo a rastreabilidade desde a vinha até ao vinho final.

 

b) Receção, triagem e preparação do mosto

Na chegada à adega, as uvas passam por um processo de triagem, manual ou mecânica, que visa eliminar quaisquer cachos não conformes, assegurando a qualidade da matéria-prima.

Os cachos são separados mediante as categorias de vinho que se pretende produzir, sendo conduzidos para lagares ou cubas de fermentação mediante o tipo de vinhos do Porto que se pretendem produzir, tanto tintos como brancos ou rosés. A maior parte das uvas utilizadas para vinho do Porto não sofre desengace.

A pisa a pé, efetuada em lagares de granito, é o método tradicional e continua a ser o processo que os produtores favorecem, tendo em vista a garantia dos melhores resultados qualitativos. Potencia a obtenção de vinhos com mais cor, estrutura e complexidade — especialmente nas categorias especiais. A sua aplicação é hoje mais limitada do que no passado, por razões práticas: exige muita mão-de-obra e tem custos elevados.

Na maioria das quintas, recorre-se a métodos mecânicos, como robôs ou sistemas de rolos, que garantem a mesma consistência e eficiência no processo de extração.

 

c) Fermentação e maceração

O mosto fermenta nos lagares ou cubas, em contacto com as películas para extrair cor, taninos e aromas. A fermentação pode ocorrer de forma espontânea, com leveduras autóctones em ambiente de temperatura controlada.

Existem diferentes técnicas de extração tais como a pisa a pé, a pisa mecânica e a remontagem, permitindo a extração de forma diferenciada dos compostos relacionados com a cor e taninos em função da estrutura e a complexidade dos diferentes vinhos do Porto que se pretendem produzir.

 

d) Interrupção da fermentação

O momento mais emblemático da vinificação do vinho do Porto é a interrupção da fermentação. Quando o mosto atinge o grau de doçura desejado, é adicionada aguardente de origem vitivinícola com título alcoométrico volúmico de 77% vol., previamente certificada pelo IVDP, IP. Esta aguardente, de elevada pureza e sensorialmente neutra, tem por função interromper a atividade fermentativa, conservando parte dos açúcares naturais da uva e conferindo ao vinho um título alcoométrico volúmico  final geralmente que vai desde os 18% vol. (nas categorias standard) e os 19% vol. (nas categorias especiais) até ao máximo de 22% vol..

A proporção típica de aguardente adicionada é de uma parte para quatro partes de mosto.

 

e) Estágio inicial

Após a fortificação, o  vinho é submetido a um processo de estabilização, após o qual são efetuadas análises físico-químicas para avaliar o título alcoométrico volúmico, os açúcares, a acidez, entre outros parâmetros analíticos.

Durante o primeiro inverno, o vinho repousa em cubas de inox ou balseiros, sendo submetido a constantes avaliações técnicas e sensoriais que contribuem para a sua primeira classificação e eventual definição de destino (estilo e categoria).

 

f) Envelhecimento e maturação

O tipo de envelhecimento irá ser decisivo para a definição dos diferentes estilos de vinho do Porto.

O envelhecimento do vinho do Porto envolve o contacto do vinho de forma mais ou menos intensa com o oxigénio, com implicações no perfil visual, olfativo e gustativo do vinho do Porto final. A elaboração de lotes de vinhos com diferentes estádios de maturação pode ser muito importante em algumas categorias de vinho do Porto:

  • Tonéis e balseiros (de grande capacidade), que proporcionam um envelhecimento redutivo, com contacto limitado com o oxigénio. Permitem preservar o carácter frutado e floral dos vinhos, sendo ideal para vinhos do “estilo Ruby”;
  • Pipas (com capacidade média de 550 litros), que promovem uma maior micro-oxigenação, induzindo níveis mais elevados de oxidação controlada, permitindo o desenvolvimento de notas amendoadas e caramelizadas, sendo ideal para vinhos do “estilo Tawny”;
  • Cubas de inox, utilizadas sobretudo nos estilos jovens e frutados, muito frescos, como o Rosé, o Branco e Ruby jovem.

 

Em função dos recipientes mencionados, os vinhos adquirem perfis diferentes à medida que envelhecem:

  • Estágio em madeira prolongado: Em geral, o vinho do Porto é envelhecido em madeira, permitindo uma evolução oxidativa, induzindo ganhos de complexidade. Recipientes de menor dimensão (pipas), são normalmente utilizados para o envelhecimento de vinhos do Porto associadas a categorias do “estilo Tawny” (“Tawny com indicação de idade” e “Data de Colheita”) e de vinhos do Porto brancos velhos ou muito velhos (“Branco com Indicação de Idade e “Data de Colheita”)
  • Estágio curto ou em inox: associado ás categorias “Ruby”, “Ruby Reserva”, “LBV” e “Vintage” (até ao engarrafamento). Este tipo de estágio permite uma evolução do vinho mais lenta, preservando o caráter frutado e estruturado, característico destas categorias de vinho do Porto.
  • Engarrafamento precoce: Vintage (após 2 anos), LBV (após 4 a 6 anos) e Crusted. Estas categorias fazem o seu envelhecimento em garrafa, após estágio curto prévio ao engarrafamento.

 

g) Loteamento, Classificação Final e Engarrafamento

Concluído o período de envelhecimento, os vinhos são sujeitos a provas regulares. O processo de loteamento – ou blend – permite combinar vinhos de diferentes pipas, cubas ou balseiros, associados frequentemente a diferentes parcelas, colheitas (quando aplicável) e castas, com o objetivo de garantir consistência, equilíbrio e complexidade no produto, em função do estilo final da categoria desejada. O vinho passa então pelo processo de estabilização final e segue para certificação no IVDP, IP, tendo em vista a posterior comercialização.

 

 

 

Vinho do Porto tinto
Na elaboração do Vinho do Porto tinto existem dois processos de vinificação: o tradicional, que utiliza lagares em pedra, e o moderno, que se processa em adegas equipadas com as mais recentes tecnologias.
O método tradicional envolve o trabalho de homens e inclui a pisa das uvas.
A fase seguinte corresponde à fermentação alcoólica que traduz a conversão do açúcar das uvas em álcool, por ação de leveduras. O aumento de temperatura e a formação de álcool (principal produto da fermentação) favorece, nesta fase, a extração de compostos aromáticos e de cor presentes nas películas das uvas. A dada altura do processo fermentativo, procede-se à encuba que consiste na separação do mosto-vinho das massas sólidas (películas, engaço e grainhas). Junto de cada lagar existe normalmente um depósito para onde se deixa escorrer o mosto-vinho, ao qual se vai adicionando a aguardente, interrompendo-se o processo fermentativo. A proporção mais frequente neste processo é de uma parte de aguardente para quatro partes de mosto-vinho. Assim, o vinho final irá manter-se com doçura residual, além de apresentar um teor alcoólico compreendido entre 19% e 22% v/v.

Nos últimos anos, surgiram nas adegas (quer cooperativas quer privadas) esmagadores elétricos de grande capacidade, lagares robóticos, cubas em aço inox com possibilidade do controlo de temperaturas de fermentação, prensas automáticas, entre outros equipamentos que, acima de tudo, permitem assegurar a higiene na adega, além de um elevado nível de controlo de todos os processos enológicos até ao engarrafamento do vinho.


Vinho do Porto branco
Os vinhos do Porto brancos são geralmente produzidos com o suporte de duas tecnologias: vinificação com maceração pelicular, onde há algum contacto com as películas das uvas; e vinificação com bica aberta, onde o mosto fermenta sem contacto com as massas sólidas.

O Vinho do Porto Branco apresenta-se em vários estilos associados a períodos de envelhecimento mais ou menos prolongados e a diferentes graus de doçura (extrasseco, seco, meio-seco, doce e muito doce ou lágrima) que resultam do modo como é conduzida a sua elaboração.
A produção de Vinho do Porto Branco extrasseco, seco ou meio-seco exige períodos de fermentação mais prolongados, já que o teor em açúcares residuais terá de ser menor.

Quer o Vinho do Porto que é elaborado em lagar quer o que é elaborado com recurso às tecnologias mais modernas, repousa em tonéis, cubas de betão ou de aço-inox até ao final do inverno. Nessa altura, efetua-se uma trasfega, separando-o das borras que se formaram no fundo das cubas por ação da gravidade.
Na primavera, tem lugar a seleção e as primeiras lotações dos vinhos, procedendo-se à sua classificação de acordo com as suas potencialidades. É igualmente definido o local para o envelhecimento do vinho: a Região do Douro ou o entreposto de Vila Nova de Gaia.